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O Acidente

Fotos: Glauco Firpo

Montador de mão cheia, tendo feito o trabalho em obras premiadas como Castanha (2014), Rifle (2016) e Beira-Mar (2015), além de ter recém contribuído com três produções gaúchas que estrearam no mesmo dia no Brasil – Despedida, Casa Vazia e Depois de Ser Cinza, Bruno Carboni estreia na direção de longas em O Acidente, aguardado por conta do sucesso do seu curta O Teto Sobre Nós (2015). Com boas performances da dupla central – Carol Martins e Gabriela Greco – e um estilo que contempla o micro sobre o macro, o filme suscita boas discussões, ainda que falte algo para se tornar memorável.

A ideia inicial do longa surgiu através da observação de Carboni sobre um evento real e curioso – felizmente, não fatal – em que uma ciclista foi carregada no capô de um carro dirigido por uma mulher, enquanto uma criança estava no banco de trás do veículo. A partir dessa raiz, e após um acidente de carro sofrido pelos pais do cineasta, Carboni e a roteirista Marcela Ilha Bordin conceberam a trama de O Acidente. Filmado em 2019 em Porto Alegre, o filme finalmente estreia nos cinemas brasileiros – e na semana seguinte à sua premiere gaúcha no Festi val de Cinema de Gramado, de onde saiu com três Kikitos: Melhor Roteiro, Direção de Arte (Richard Tavares) e Melhor Atriz (Martins).

Na trama, uma ciclista e uma motorista se envolvem em um acidente com potencial fatal. Joana (Martins) cruzava as ruas da cidade de bicicleta e é fechada pelo carro de Elaine (Greco). Querendo tomar satisfações, Joana se enfia na frente do veículo daquela desconhecida e acaba carregada no capô, com sua bicicleta destruída no processo. Seus machucados parecem mínimos de início e ela nem conta para sua namorada, Cecília (Carina Sehn) a respeito. Quando o vídeo do acidente viraliza, por conta da gravação do filho de Elaine, Maicon (Luis Felipe Xavier), Joana não vê outra saída se não falar sobre com sua companheira. Para piorar, o pai de Maicon, Cléber (Marcello Crashaw), entra em contato para pedir ajuda na tentativa de tirar o menino da guarda da mãe.

Assim como Depois de ser Cinza, O Acidente tem o cacoete dos diálogos com tempo estendido, no qual uma pessoa fala algo e a outra toma seu tempo para responder – um lugar-comum em dramas intimistas que nem sempre dá certo, destituindo da história um retrato mais naturalista. Isso se dá, principalmente, entre o casal principal, vivido por Carol Martins e Carina Sehn. É notório que aquele relacionamento está com problemas e existe um grande abismo entre as duas. Carboni tenta mostar isso através de conversas que parecem anestesiadas, muito por conta do estado anímico de ambas. Quem injeta alguma vibração na trama é Elaine, na performance energética de Gabriela Greco. A atriz consegue trazer algum molho para uma história que carecia de um pouco mais de força.

O Acidente abraça muitos tópicos, como a maternidade; as ligações afetivas entre casais; a inadequação de um menino através do olhar do pai; entre muitos outros. Não falta assunto, mas falta dramaticidade. Compreensível que Carboni tente fazer algo intimista, mas os sentimentos das personagens são guardados de tal forma que dificulta nossa relação. O desfecho, no entanto, é a pulsão que tanto faltava no todo.

O ACIDENTE
BR – Drama – 94 min
Direção: Bruno Carboni
Roteiro: Marcela Ilha Bordin e Bruno Carboni
Com Carol Martins, Carina Sehn, Luis Felipe Xavier, Gabriela Greco e Marcello Crashaw
Cotação: 6

O texto sobre O Acidente é parte da nossa cobertura do 51º Festival de Cinema de Gramado. Leia nossa cobertura completa no link.

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