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Drácula: A Última Viagem do Demeter

Fotos: cortesia Universal

A ideia é ótima. Muitas histórias já foram contadas no cinema a respeito do vampiro criado por Bram Stoker. Mas poucas se debruçaram na viagem do Demeter, o navio que transportou o caixão de Drácula da Romênia até a Inglaterra, onde o chupador de sangue notoriamente tocou o terror. Para não dizer que o território é totalmente inexplorado, a série Dracula (2020), criada por Mark Gatiss e Steven Moffat, dedicou um episódio inteiro para essa travessia. Calhou que dois anos depois do lançamento do show, este Drácula: A Última Viagem do Demeter chegou aos cinemas – mesmo que o projeto inicial tenha data de quase 20 anos. Foi um jornada longa para que o filme aportasse nas telonas e, infelizmente, a espera não compensa. Embora seja vendido como um Alien: O Oitavo Passageiro (1978) no século XIX, a história nunca empolga ou assusta como deveria.

Na trama, conhecemos o médico Clemens (Corey Hawkins), um homem que está querendo voltar para Londres e tenta carona no Demeter, capitaneado por Elliot (Liam Cunningham), um velho lobo do mar. Seu braço direito Wojchek (David Dastmalchian) não acredita que Clemens tenha o que é necessário para servir como marujo, mas acaba o convidando para a jornada depois de o rapaz salvar o filho de Elliot, o jovem Toby (Woody Norman). Dentre a carga que o Demeter está levando para Londres, um caixão com o emblema de um dragão chama a atenção de parte da tripulação, que desiste da viagem quando vê o símbolo.

Assim que o navio parte para o alto mar, estranhos fatos passam a acontecer. O primeiro é a morte de todos os animais a bordo, com estranhas marcas de mordida. Clemens examina os bichos e determina que o que os matou não é uma doença que humanos possam contrair. A aparição de uma mulher, Anna (Aisling Franciosi), desmaiada, cheia de mordidas no corpo, deixa os marujos do Demeter perto de um motim. A presença feminina é vista como amaldiçoada, mas Clemens consegue tratar a moça, a deixando sob seus cuidados. Quando membros do navio começam a ser assassinados, está claro que uma força maligna está entre eles. Mas como parar um mal que se movimenta pelas sombras?

O conceito de Drácula: A Última Viagem do Demeter é incrível e o diretor norueguês André Øvredal mergulha seu filme nas trevas para tentar envolver seu espectador naquela atmosfera. O problema é que os personagens são muito mal desenvolvidos. O único com quem nos importamos é o protagonista, Clemens, que ganha um pouco mais o que fazer e até uma história pregressa – que é melhor explorada quase ao final do segundo ato. Ele é um homem negro, único a se formar na faculdade de medicina em Londres, mas que tem problemas em conseguir emprego por conta do tom de sua pele. Na Romênia, havia conseguido uma posição no hospital, mas foi dispensado assim que chegou, por conta do preconceito racial. No Demeter, Clemens começa um tanto cínico, sem esperanças. Mas tão logo passa a tratar a jovem que aparece no navio, algo muda. Felizmente, o filme não tenta forçar uma trama romântica, mas a junção daqueles dois estranhos no ninho os ajuda a se manter sãos naquele navio.

A própria Anna ganha um pouco mais do que os demais, sendo o alimento de Drácula durante a viagem – até que ela escapa e o vampiro precisa se banquetear com a tripulação. O restante do elenco é, basicamente, bucha de canhão – mesmo que o capitão e seu braço direito tenham objetivos mínimos e atores que conseguem convencer nos papéis, é pouco para gerar ligação.

O Drácula – vivido abaixo de muita maquiagem por Javier Botet – lembra mais o Nosferatu de F.W. Murnau, do que o vampirão charmoso que estamos acostumados a acompanhar. Isso é justificável pelo fato de estarmos vendo praticamente um slasher, com Drácula servindo como o monstro da vez. O personagem não tem brilho algum e conta com pouquíssimas falas. Um desperdício dada a forte personalidade de um dos maiores vilões da literatura e do cinema. A tentativa de espremer uma sequência dessa trama é pavorosa – mas por conta do fracasso do longa nas bilheterias americanas, é pouco provável que tenhamos qualquer continuação.

Com ritmo desigual e mortes pouco criativas, Drácula: A Última Viagem do Demeter é uma oportunidade perdida. Nem as ligações fortes com o livro de Bram Stoker são suficientes para aplacar a curiosidade dos fãs, que nunca se conectam com a história ou com seus condenados personagens. Uma lástima.

 

DRÁCULA: A ÚLTIMA VIAGEM DO DEMETER
THE LAST VOYAGE OF THE DEMETER
EUA, REINO UNIDO, MALTA, ITÁLIA, ALEMANHA – 118 min – Terror
Direção: André Ovredal
Roteiro: Bragi F. Schut, Zak Olkewicz, baseado na obra de Bram Stoker
Com Corey Hawkins, Aisling Franciosi, Liam Cunningham, David Dastmalchian, Chris Walley, Jon Jon Briones, Stefan Kapicic, Woody Norman, Javier Botet
Cotação: 4

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