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Elvis

Austin Butler como Elvis Presley em “ELVIS” – Cortesia Warner Bros. Pictures

A vida de Elvis Presley sob a ótica extravagante de Baz Luhrmann. O conceito, para quem é fã do cinema do diretor de Romeu + Julieta (1996) e Moulin Rouge: Amor em Vermelho (2001), parecia bastante promissor. E, visualmente, o longa-metragem que coloca Austin Butler na pele do Rei do Rock é tudo o que poderíamos esperar de um trabalho de Luhrmann: colorido, brilhante, intenso. No quesito narrativa, o filme deixa um tanto a desejar, mas ainda consegue fazer um resumo básico do que foi a vida de Elvis Presley e sua relação complicada com seu empresário, o ardiloso Coronel Tom Parker – vivido sob pesada maquiagem por Tom Hanks.

A história foi escrita por Luhrmann ao lado de Jeremy Doner, com o roteiro posteriormente trabalhado pelo próprio diretor, Doner, Sam Bromell e Craig Pearce. Uma vida intensa como a de Elvis seria difícil abarcar em um filme de duas horas e meia de duração. Por isso, espere por assistir a um compacto dos melhores momentos da vida do músico e astro do cinema. Aliás, a fase cinematográfica de Elvis é contada em tão poucos detalhes que parece que não teve influência alguma em sua carreira. Luhrmann comentou que chegou a montar uma versão com 4 horas de duração, mas que precisava entregar um longa de, no máximo, 150 minutos. Talvez reeditando o material e o transformando em uma série para o HBO Max teríamos mais profundidade em alguns pontos – mas não o mesmo poder de espetáculo que temos ao ver este trabalho na tela grande, com certeza.

Tom Hanks como Tom Parker e Austin Butler como Elvis Presley em “ELVIS” – Cortesia Warner Bros. Pictures

Elvis é contado sob o ponto de vista do Coronel Tom Parker, que narra a trama quando está perto da morte. É um recurso que poderia ser melhor utilizado visto que Luhrmann é bastante solto na timeline da história. A narrativa tem um quê de fluxo de consciência, mas muito mais pelo estilo pós-moderno do cineasta do que pelo motivo da narração em primeira pessoa de Parker. Acompanhamos o primeiro encontro entre o empresário e o músico – que já conquistava algum espaço nas rádios com seu mergulho na música negra americana, o blues e o R&B. Parker consegue convencer Elvis e sua família de que ele é a figura perfeita para ser seu empresário, tanto que abandona todos seus demais clientes para ser exclusivamente o manager de Presley. Parker tem faro para negócios e consegue fazer com que seu cliente cresça a alturas nunca imaginadas. O sucesso de Elvis se dá não só pela sua música, mas pelo seu sex appeal junto às mulheres. As polêmicas por suas aparições sensuais, que lhe geraram o apelido “Elvis, The Pelvis”, fazem com que Parker tenha que redesenhar algumas estratégias. O músico acaba se alistando no Exército, ficando dois anos na Alemanha, e retorna para ser um all-american man. A morte de sua mãe, Gladys (Helen Thomson), e a paixão por Priscilla (Olivia DeJonge) são temáticas que ganham algum destaque – mas não tanto quanto poderiam.

Austin Butler como Elvis Presley em “ELVIS” – Cortesia Warner Bros. Pictures

Em relação à música, vemos Elvis fazendo apresentações históricas, como o antológico especial de televisão que marcou seu retorno, em 1968, assim como suas apresentações em Las Vegas, onde fez residência em um grande cassino. Austin Butler faz um ótimo trabalho ao emular o jeito de Presley cantar e se movimentar no palco, sumindo no papel. O ator chegou a cantar as canções da primeira fase de Elvis, devido a baixa qualidade das gravações da época. Na fase posterior, de sucesso, seus vocais foram mesclados aos do cantor. Se algo funciona à perfeição em Elvis é sua faceta musical – e não seria estranho imaginar isso, visto que estamos falando do diretor de Moulin Rouge. Portanto, para quem é fã da música, tem uma ótima produção para conferir.

Por outro lado, quem deseja conhecer o Elvis atrás da fama terá um pouco menos de material para trabalhar. Nunca sentimos que conhecemos a verdadeira figura por trás do mito. Chegamos mais perto quando vemos a relação dele com sua mãe. Mas como ela morre na primeira metade da história, uma parte importante da persona de Elvis é deixada de lado. Como toda cinebiografia, muita coisa deve ser tratada como ficção pesada – e Luhrmann deixa algumas verdades bem longe do filme, como o fato de Priscilla ter conhecido Elvis aos 14 anos. Outro ponto que pode incomodar na trama é a personalidade frágil do protagonista. Ele é visto como uma vítima boa parte da história. Primeiro, pelo tratamento recebido pelo Coronel Parker, que o tinha quase como um refém. Depois, pelas drogas que tomava. São poucos os momentos em que vemos Elvis se levantar contra as forças que o pressionavam – e várias delas são invencionices do roteiro. Difícil acreditar que um astro daquele tamanho seria tão maleável.

Tom Hanks como Coronel Tom Parker em “ELVIS” – Cortesia Warner Bros. Pictures

Mas, claro, isso tem a ver com a história que Luhrmann quer contar. A premissa é que não existiria Elvis sem Tom Parker e, com isso, a trama dá uma importância enorme ao empresário. Tom Hanks consegue desaparecer atrás daquela maquiagem pesada e entregar um sujeito bastante problemático, que enxergou naquele jovem rapaz um ticket para a fortuna e o explorou como pode durante toda sua vida. Não foram poucos que disseram que Hanks estava finalmente abandonando o bom mocismo e encarando um personagem diferente – mas isso ele já havia feito antes, no pouco visto A Viagem (2012), das irmãs Wachowski e Tom Tykwer. Ator talentoso, Hanks busca um sotaque diferente, uma postura sem igual e se entrega a um dos seus mais asquerosos personagens. De novo, é uma visão bastante unidimensional, visto que Parker não pode ter sido o monstro que aparenta ser.

Austin Butler como Elvis Presley em “ELVIS” – Cortesia Warner Bros. Pictures

De qualquer forma, quem deseja ver um espetáculo belo e relembrar as canções imortais de Elvis Presley, Elvis é uma produção a se procurar. Não espere uma verdade absoluta ou um filme definitivo sobre a vida do músico. Por conta da forma inventiva que Luhrmann filma e edita seus trabalhos, são 150 minutos que passam ligeiro. O desfecho ainda guarda um momento especial, em que o rosto de Austin Butler se funde ao do Elvis real em uma cena emocionante. Não chega a ser um spoiler, visto que é natural que a figura verdadeira apareça no final, mas é um trecho que surpreende pela suavidade do efeito.

 

ELVIS
EUA – 159 min – Drama, Musical
Dir.: Baz Luhrmann
Rot.: Baz Luhrmann, Sam Bromell, Craig Pearce, Jeremy Doner
Com Austin Butler, Tom Hanks, Olivia DeJonge, Helen Thomson, Richard Roxburgh, Kelvin Harrison Jr., David Wenham, Kodi Smit-McPhee, Luke Bracey, Dacre Montgomery, Leon Ford, Gary Clark Jr., Yola
Cotação: 7

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