Filmes de desastre, pós-apocalípticos, existem aos montes. Tanto que eles são um subgênero por si só. Sobreviventes: Depois do Terremoto é a mais nova produção que chega para engordar a lista de títulos do tipo, mas que talvez por estar longe do cinemão americano (especialista no subgênero) traga novidades suficientes para gerar curiosidade. Nunca é brilhante, mas entretém. Comandado pelo sul-coreano Eom Tae-hwa, o longa mostra uma assustadora possibilidade em um cenário não muito distante da realidade.
Na trama, os habitantes do condomínio Hwang Gung em Seul são surpreendidos com uma dádiva macabra: um terremoto assola a região, destruindo a tudo e todos a sua volta, menos o prédio onde residem. A partir desta situação, os habitantes do local começam a pensar em sua sobrevivência: juntar mantimentos, proteger suas residências, manter a ordem. Isso acaba gerando a necessidade de uma liderança e o prestativo morador Yeong-tak (Lee Byung-hun, de Round 6, 2021) parece ser o sujeito ideal para ser o delegado do prédio. Mal sabem eles que o homem guarda um segredo a respeito de sua situação. Com a superpopulação do prédio incomodando os residentes, uma votação é realizada para decidir se as pessoas que buscaram refúgio no Hwang Gung deveriam ser expulsas. A decisão mostra um pouco da falta de humanidade que surge quando um pouco de poder é dado a alguns indivíduos. Mas esse é só o começo.
Em filmes do tipo, geralmente a história abre com a apresentação dos personagens que iremos acompanhar e um pouco de como era a realidade de cada um antes do desastre. Eom Tae-hwa (que assina o roteiro ao lado de Lee Shin-ji, baseado no livro de Kim Soong-nyung) subverte um pouco essa lógica, nos colocando no terremoto logo de início. A ideia é boa, visto que a vida daquela comunidade não era muito diferente do que conhecemos. O que é extraordinário, afinal de contas, é como eles vão encarar uma nova realidade. Além disso, é possível surpreender com algumas informações que nos são entregues em flashbacks estrategicamente inclusos no meio da trama. Nada que não vimos em outras produções, mas que funciona bem neste subgênero.
Os efeitos visuais impressionam. As cenas em que o terremoto aparece são assustadoras, mas é notável que a equipe de efeitos não ficou ocupada apenas com isso, tendo sido responsável pelo prédio como um todo. O espigão que permanece de pé é notadamente digital, assim, claro, como os tombados ao seu lado. Se sobrou cuidado com o visual, faltou um pouco na construção dos personagens. Ainda que tenhamos vários para acompanhar, nenhum deles é lá muito engajador. Min-Seong (Park Seo-joon, de As Marvels, 2023) e sua esposa Myeong-hwa (Park Bo-young, de No Dia do seu Casamento, 2018) talvez sejam os únicos mais interessantes – ele se vendo obrigado a servir como um capanga para o novo delegado do prédio, e realizando ações que não concorda, ela se mostrando alguém realmente empático, muito por conta de sua profissão, a enfermagem. Lee Byung-hun acaba sendo o destaque do elenco por viver o tal delegado, embora esteja óbvio desde o início que o sujeito não era confiável. Talvez se o filme não deixasse tão claro de primeira que Yeong-tak escondia algo, a revelação no segundo ato surtisse maior efeito.
Escolhido como seu representante no Oscar 2024 pela Coreia do Sul, Sobreviventes: Depois do Terremoto consegue entreter o suficiente para uma olhada de perto. Poderia ser mais curto – bate os 130 min – ou investir melhor o tempo em mais personagens que se mantém marginalizados na trama. Com o conceito que têm, não seria difícil transformar a história em uma série de TV, inclusive. O desfecho guarda algumas boas ideais, inexplicavelmente não aproveitadas com mais afinco – os prédios tombados, que servem como abrigo para os sobreviventes do desastre, geram cenários incríveis, que surgem como uma nota de rodapé, em vez de serem desenvolvidos como poderiam. Em uma sequência, talvez? Não vai demorar nada para descobrirmos, com a Netflix lançando em 26 de janeiro o longa Em Ruínas, que dá continuidade à história.
SOBREVIVENTES: DEPOIS DO TERREMOTO
Konkeuriteu Yutopia
2023 – Coreia do Sul – 130 min – Drama – 16 anos
Dir.: Eom Tae-hwa
Rot.: Eom Tae-hwa, Lee Shin-ji
Com Lee Byung-hun, Park Seo-joon, Park Bo-young, Kim Sun-young, Park Ji-hu, Kim Do-yoon, Uhm Tae-goo, Lee Seon-hee, Joo In-young
Distribuição: Paris Filmes
Cotação: 6
