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Tinnitus

por Rodrigo de Oliveira

A atmosfera sonora é importantíssima para Tinnitus, segundo longa-metragem do diretor Gregorio Graziosi. Afinal de contas, sua protagonista Marina (Joana de Verona) sofre com um zumbido nos ouvidos – o tinnitus do título – que a obriga a abandonar a profissão que ama e se esconder dentro de si mesma. Não só o drama da personagem é construído por uma interessante cama sonora, cheia de detalhes, mas também por um insuspeito clima de pesadelo que joga a razão da jovem mulher para escanteio. Em dado momento, Marina (e a plateia) se pergunta se o que ela sofre é algo interno ou advento de uma ação externa, nociva, tóxica. Graziosi é competente ao transformar um drama aparentemente corriqueiro em algo mais próximo do terror psicológico. Vencedor de três Kikitos no Festival de Cinema de Gramado de 2022 – Melhor Fotografia, Direção de Arte e Montagem – e selecionado para a mostra competitiva do Festival Internacional de Karlovy Vary, na República Tcheca, Tinnitus chega aos cinemas após uma bela trajetória em eventos cinematográficos.

Na trama, Marina é uma atleta de saltos ornamentais que está vivendo um momento importante na carreira ao lado da parceira Luísa (Indira Nascimento). Ela, no entanto, acaba sucumbindo a um zumbido muito forte no ouvido e sofre uma queda durante uma competição, algo que a obriga a deixar o esporte. A saída não é amigável, com Marina e Luísa rompendo sua relação profissional e pessoal. Tempo se passa. Marina começa a se tratar com especialistas e passa a namorar o médico Dr. Santos (André Guerreiro Lopes), com quem tem planos de ter um filho. Sem conseguir se afastar das piscinas, a jovem passa a trabalhar em um aquário, vestida como uma sereia. Uma janela para seu passado se abre quando Teresa (Alli Willow) se aproxima de Marina. Ela não sabe de início, mas a jovem é a nova parceira de Luísa nos saltos e sua chegada pode representar um retorno. Isso, claro, se ela conseguir sobrepujar as cicatrizes do passado, as rusgas com Luísa e, também importante, o zumbido que ainda a incomoda.

Como predicado em Tinnitus, vale destacar a performance de Joana de Verona, que nos conduz nos dramas de sua personagem com certeira intensidade. Como o mal que Marina sofre é muito interno, isso requer da atriz maior habilidade para externar isso ao público. A personagem, é verdade, mantém muita coisa enterrada dentro de si – esconde verdades do namorado, de sua ex e de qualquer pessoa que se aproxime. Isso mantém Marina como uma personagem verdadeiramente enigmática, mas que transmite muito ao público por conta da performance de Verona. Alli Willow aparece bem como uma agente do caos, embora a personagem fique um tanto à deriva em parte da trama.

Body horror com ritmo desigual, Tinnitus tem uma fotografia competente de Rui Poças, com enquadramentos que fogem do óbvio, principalmente nos trechos em que vemos o esporte de Marina e Luísa. É verdade que alguns efeitos visuais atrapalhem, principalmente as cenas dos saltos, em que é notável a artificialidade do cenário. Quanto ao som, temos o zumbido invadindo a cena diversas vezes – em dados momentos, temos a experiência de estar na cabeça de cada um dos personagens, quando conversam em uma sessão. Por vezes, esse exemplo de tinnitus é bastante sutil. Em outros, o som é bastante óbvio e tende a deixar o espectador com uma pequena ideia do que seria a experiência de sofrer com um barulho constante. Os terrores mais reais são os mais eficazes e Graziosi consegue transmitir isso muito bem neste seu imperfeito, mas interessante novo trabalho. Talvez uma enxugada na trama ou a melhor utilização de personagens coadjuvantes – o mestre Antonio Pitanga mal diz a que veio – trouxessem mais predicados ao longa-metragem.

 

FICHA TÉCNICA
TINNITUS
BR – 105 min – Drama
Dir.: Gregorio Graziosi
Com Joana De Verona, Indira Nascimento, Alli Willow, André Guerreiro Lopes e Antonio Pitanga
Cotação: 7