por Rodrigo de Oliveira
Triste pensar que Jafar Panahi, o cineasta iraniano por trás deste Sem Ursos e por outros longas memoráveis, como O Círculo (2000), Táxi Teerã (2015) e 3 Faces (2018), estava preso no Irã durante o lançamento desta produção em festivais em 2022, por ter defendido outros colegas cineastas também em cárcere. O governo iraniano tem Panahi na mira há tempos e este seu mais recente trabalho, no qual estrela além de dirigir, mostra de forma fictícia a situação complicada do cineasta. Em fevereiro de 2023, Panahi foi libertado após protestar com uma greve de fome por conta de seu cárcere.
Na trama de Sem Ursos, vemos Panahi em um vilarejo remoto, perto da fronteira. Ele está impossibilitado de deixar o país e sem licença para comandar filmes em sua terra natal. Por isso, está dirigindo de maneira remota uma produção na Turquia. Quando a população local acredita que ele tirou fotos de um casal que se relacionava de maneira proibida, a vida de Panahi se complica. Ele precisa jurar para a comunidade que não fez as fotos e que nada sabe a respeito.
Como o título diz, não temos ursos nesse longa – a citação é a de um personagem que usa a ameaça dos animais ferozes para conseguir com que Panahi ouça seu relato. Exibido no Festival de Veneza, de onde saiu com o Prêmio Especial do Júri, é mais uma obra brilhante do cineasta iraniano, que consegue sobrepujar as grandes dificuldades que tem com o governo totalitário do seu país, entregando sempre obras com intensa mensagem humana e, não raro, alguma esperança. Neste último quesito, Sem Ursos é uma exceção, com os desenrolamentos da trama pesando demais nos personagens.
SEM URSOS
KHERS NIST
Irã – 107 min – Drama
Direção e Roteiro: Jafar Panahi
Com Jafar Panahi, Naser Hashemi, Vahid Mobaseri, Bakhtiar Panjei, Mina Kavani
Cotação: 9
Texto publicado originalmente na cobertura da 46ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Para conferir todos os textos deste especial, clique aqui.