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A Morte do Demônio: A Ascensão

Fotos: cortesia Warner Bros.

Por Rodrigo de Oliveira

Cabanas isoladas, o livro dos mortos, demônios, muito sangue, uma motosserra e, claro, Ash Williams são elementos esperados quando estamos falando de um longa-metragem dentro do universo Evil Dead. O cineasta Lee Cronin (de O Bosque Maldito, 2019) resolve mudar um pouco os ares ao ganhar a chance de trabalhar em uma franquia clássica. Mistura de sequência e reboot, A Morte do Demônio: A Ascensão tem quase todos os elementos citados, com a ausência ou diminuição de alguns itens essenciais. Vamos tirar do caminho logo de cara: Ash Williams, o protagonista da trilogia original e da série televisiva, vivido por Bruce Campbell (e que fez uma ponta no reboot de 2013), não aparece neste novo capítulo. É uma ação corajosa de Cronin, que se distancia de uma parte favorita dos fãs para criar sua própria história. Campbell aparece em uma ponta não-creditada (ao menos, sua voz), mas tem papel maior nos bastidores, como o produtor executivo da obra ao lado de Sam Raimi, seu amigo, diretor e mente criativa por trás da trilogia original, desde 1981. Com essa benção atrás das câmeras, este novo A Morte do Demônio parece ter encontrado um bom caminho ao não esquecer do cânone, mas ao apontar sua câmera para algo definitivamente diferente.

O longa começa em alta octanagem e, aparentemente, em lugar familiar: uma cabana no interior. Lá, a jovem Teresa (Mirabai Pease) se desentende com Caleb (Richard Crouchley), o namorado babaca de sua melhor amiga Jessica (Anna-Maree Thomas). Na melhor tradição Evil Dead, um destes adolescentes está possuído, claro. Mas não é com eles que passaremos a maior parte da trama, que retorna um dia para explicar como aquele demônio escapou das trevas. A técnica em guitarras Beth (Lily Sullivan) descobre estar grávida e decide visitar sua irmã Ellie (Alyssa Sutherland), a quem não vê há tempos. Ela não sabe, mas Ellie está passando por um divórcio e está cuidando de seus três filhos sozinha, no apartamento de um prédio prestes a ser demolido. Depois seus sobrinhos Bridget (Gabrielle Echols), Danny (Morgan Davies) e Kassie (Nell Fisher) saírem para comprar uma pizza para a noite, Beth decide ter uma conversa franca com a irmã. Mas um terremoto interrompe qualquer assunto mais sério. Por conta deste tremor, uma fenda se abre no prédio, revelando uma antiga estrutura (o local era um banco no século passado) de onde Danny (que tem pretensões como DJ) encontra um livro e alguns discos antigos. Ao folhear aquele calhamaço sinistro e ouvir as gravações do acetato, sem saber, Danny libera um demônio que toma conta do corpo de sua mãe. Agora, Beth e seus sobrinhos (além dos vizinhos) terão de lidar com aquela força do mal.

Para os fãs do gore, a boa notícia é que A Morte do Demônio: A Ascensão está tão ou mais sangrento que o de costume. Decapitações, estripações, desmembramentos e todo o tipo de escoriação pode ser esperada. Além disso, a quantidade de vômito e vísceras é impressionante. Para quem curte seu terror com o maior número de excreções possíveis, encontrará um programão. O fato de Lee Cronin mudar o clássico ambiente da franquia, o tirando das cabanas e o colocando firme em um local bastante urbano gera algumas boas novidades. Faltou um maior desenvolvimento para Ellie e sua prole, que basicamente se mostra uma família moderna – ela é tatuadora, por exemplo – passando por um divórcio. Beth é a única que ganha algum arco mais impactante, sendo a protagonista a ser afetada por aquela trama: a descoberta da gravidez a faz ter dúvidas se poderia ser uma mãe ou não, o que aquele episódio ao lado da irmã e dos sobrinhos tende a resolver.

A partir de agora, vamos entrar em spoilers, portanto pule para o último parágrafo caso não tenha assistido ao longa. Uma boa surpresa de A Morte do Demônio: A Ascensão é o fato de nenhum personagem estar realmente seguro. Quando a trama no apartamento começa, e conhecemos a família e seus vizinhos, uma certeza surge na hora: o trio de rebentos de Ellie terminará ilesa, como tem acontecido em produções que não se arriscam. Somos levados a crer que os vizinhos serão a bucha de canhão para aplacar a sede de sangue dos fãs e, talvez, Beth se sacrifique de alguma forma pelos sobrinhos quando sua irmã é possuída. E não é isso que acontece. Lógico que os vizinhos são eliminados tão rápido quanto conseguimos falar Necronomicon. Mas Danny, Bridget e Kassie não estão necessariamente seguros apenas por serem jovens. Ok, Cronin não chega ao ponto de matar a criança caçula, mas o fato de termos os filhos mais velhos transformados é uma ação inteligente do roteirista, que prova que ninguém está salvo. A junção de Ellie com os filhos ao final nos entrega uma criatura diferente do que havíamos visto na franquia, uma louvável novidade. Lily Sullivan abraça bem o papel de heroína da trama e seu desfecho, banhada em sangue e empunhando a tradicional motosserra, é uma cena que deve fazer os fãs vibrarem.

Quem cresceu assistindo aos filmes de Sam Raimi, deve lembrar que o senso de humor sombrio e, muitas vezes, enviesado era outro ponto que destacava Evil Dead da produção de horror das décadas de 1980 e 1990. Neste item, Cronin nos fica devendo. O novo A Morte do Demônio se leva a sério a todo momento e não conta com momentos cômicos para dar uma aliviada na pressão da audiência. Quem tem estômago mais fraco pode ficar um tanto enjoado em alguns trechos, mas geralmente quem sofre disso não costuma procurar com tanto afinco a filmes do gênero. A maneira como o longa amarra o começo, na cabana, com o desfecho, na garagem, nos leva a crer que a ideia é seguir com os personagens apresentados neste capítulo – nem que seja para explicar a tal ascensão dos demônios do título. Manter a ação como vimos e incluir uma pitada de humor pode ser o segredo do sucesso para uma inevitável sequência – isso, claro, se a bilheteria for graúda o suficiente.

FICHA TÉCNICA
A MORTE DO DEMÔNIO: A ASCENSÃO
EVIL DEAD RISE
EUA – 97 min – Horror
Direção e Roteiro: Lee Cronin
Com Lily Sullivan, Alyssa Sutherland, Gabrielle Echols, Morgan Davies, Nell Fisher, Mirabai Pease, Richard Crouchley, Anna-Maree Thomas, Noah Paul, Billy Reynolds-McCarthy, Tai Wano, Jayden Daniels, Mark Mitchinson
Cotação: 7

A Morte do Demônio (1981), de Sam Raimi, foi capa da nossa ALMANAQUE21: 1981. Leia a crítica em nossa edição na Bancah, Uol Leia+ ou compre nossa revista avulsa aqui.