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Ghostbusters: Mais Além

A primeira providência que um fã de Os Caça-Fantasmas (1984) e Caça-Fantasmas 2 (1989) precisa tomar para apreciar Ghostbusters: Mais Além é regular as expectativas. Se você espera um filme nos moldes dos originais, com piadas a cada minuto, é melhor buscar o ótimo (e incompreendido) reboot lançado em 2016, estrelado por Kristen Wiig e Melissa McCarthy. Ghostbusters: Mais Além se mostra muito mais uma história dentro do universo da franquia, explorando outras possibilidades dentro daquele mundo criado por Dan Aykroyd e Harold Ramis nos anos 80. Misto de sequência e tributo, dirigido por Jason Reitman – filho do diretor original, Ivan Reitman, o longa é bastante reverente ao legado daqueles filmes e tende a emocionar com uma trama nostálgica e muito familiar.

Um terceiro filme dos Caça-Fantasmas é discutido há, pelo menos, 30 anos. A experiência do segundo longa não foi das melhores – Bill Murray nunca escondeu seu descontentamento com o roteiro – e qualquer conversa a respeito de um novo longa com o quarteto original sempre barrava nesse problema. Murray não retornaria caso o script não fosse do seu agrado. Aykroyd e Ramis tentaram por anos concatenar uma trama que agradasse a todos e, algumas vezes, parecia que a franquia retornaria. Nunca deu certo, no entanto. Com a morte de Harold Ramis em 2014, as chances de ver o grupo original com suas mochilas protônicas parecia quase impossível. Tanto que a Sony encomendou um reboot, comandado por Paul Feig, para iniciar uma nova franquia com a marca. Infelizmente, não gerou o resultado de bilheteria esperado, muito por conta, convenhamos, da má vontade do público em abraçar uma nova versão da história estrelada por mulheres. Foi um boicote ridículo. Em 2019, Jason Reitman revelou que estava trabalhando em uma sequência direta dos dois filmes dos anos 80 e que contaria com participações de quase todo o elenco original, mas com novos protagonistas. Com a benção de Ivan Reitman, que serve como produtor, Jason pode dar sua cara para os caçadores de fantasmas.

Jason Reitman assina o roteiro ao lado de Gil Kenan. Na trama, conhecemos a família de Callie (Carrie Coon), mãe de dois filhos: Phoebe (Mckenna Grace) e Trevor (Finn Wolfhard). Com problemas financeiros, o trio é despejado de sua residência e precisa se mudar para a casa do pai de Callie, que acabou de falecer. O casarão, com toda a pinta de lugar mal-assombrado, fica em uma região erma em Summerville, Oklahoma. Phoebe e Trevor precisam se acostumar com a nova vida. Enquanto a menina faz rápida amizade com um garoto de seu novo colégio, apelidado de Podcast (Logan Kim), assim como com seu professor Chad (Paul Rudd), o rapaz começa a trabalhar em uma lanchonete, tentando chamar a atenção de uma das garçonetes, Lucky (Celeste O’Connor). Estranhos tremores acontecem na região, algo que deixa o professor Chad curioso, visto que Summerville não está em uma área potencialmente tectônica. Fuçando em quartos do casarão, Phoebe descobre que seu avô recém-falecido era, na verdade, um Caça-Fantasmas chamado Egon Spengler. E que o motivo da atividade sísmica da região pode ser mais sobrenatural do que as pessoas poderiam imaginar.

Evitamos ao máximo revelar importantes pontos do roteiro na sinopse, até para que as surpresas sejam preservadas. O que podemos dizer sem prejuízo é que Jason Reitman faz um filme conscientemente nostálgico, até romântico em relação aos Caça-Fantasmas. Existe muita reverência ao passado em cada momento em que um item ou um personagem dos longas originais aparece na tela. Reitman é parcimonioso, no entanto, com suas homenagens. Sua ideia é construir novos personagens e que eles sejam bons o suficiente para carregar a trama sozinhos. As referências pretéritas surgem aos poucos e vão desde a aparição de Janine Melnitz (Annie Potts), se mostrando alguém fiel a Egon até o fim, passando pelas armadilhas para pegar fantasmas e, claro, ao próprio Ecto-1, o carro dos heróis, que é reformado por Trevor. Reitman vai incluindo a cada nova cena algo que remete aos originais e a música é um grande ponto disso. A trilha composta por Rob Simonsen começa bastante descolada do que ouvimos anteriormente para, passo a passo, incluir elementos conhecidos. O tema clássico de Elmer Bernstein surge timidamente de início, até tomar boa parte das cenas mais divertidas. Quem espera por ouvir o sucesso de Ray Parker Jr. terá seu momento de catarse.

Quanto ao elenco novo, Mckenna Grace se prova uma jovem atriz talentosa, como já havia mostrado em títulos distintos como Annabelle 3: De Volta para Casa (2019) e Jovem Sheldon (2018-). Por falar em Sheldon, em Ghostbusters: Mais Além, Grace vive uma personagem que seria sua melhor amiga, caso vivessem próximos. Com mente curiosa e conseguindo uma ligação forte com seu avô, Phoebe é uma boa adição ao rol de heróis da franquia. Finn Wolfhard, famoso por Stranger Things, interpreta o clássico irmão mais velho e, na primeira metade do longa, vive sua própria aventura adolescente. Paul Rudd surge como a ligação direta entre aqueles jovens e os Caça-Fantasmas, se mostrando um fã do grupo original. Carrie Coon e Rudd servem como os novos Sigourney Weaver e Rick Moranis para a parte da trama que é, basicamente, um remake do original. Aliás, se existe um ponto em que Ghostbusters: Mais Além poderia melhorar é neste ponto. Muito melhor se a ameaça fosse inédita, não algo que já vimos como funciona e que, afinal de contas, já foi derrotada pelos Caça-Fantasmas originais.

A respeito de Ray Stantz (Dan Aykroyd), Winston Zeddemore (Ernie Hudson) e Peter Venkman (Bill Murray), o retorno é emocionante e conta com surpresas que vão deixar qualquer fã com uma lágrima no olho. É impressionante como os atores retornam aos seus personagens com facilidade. Isso, curiosamente, acaba surgindo como um pequeno problema de Mais Além. Pelo tom ser muito diferente dos originais, quando Peter começa a fazer suas usuais piadas, elas parecem deslocadas, como se ele estivesse atuando em um outro filme. Felizmente, a emoção de ver o retorno dos heróis acaba por minimizar essa questão. É o momento que todo espectador que cresceu vendo os filmes esperava e Reitman entende isso, entregando todo o fan service possível. A homenagem a Harold Ramis é ímpar.

Com a porta escancarada para sequências, resta esperar para ver se o público vai abraçar esse retorno. Importante salientar que temos cenas pós-créditos, uma que constrói o cenário para uma possível continuação e, outra, que é apenas uma piscadela para o passado, com a participação de alguém que não poderia faltar em um longa dos Caça-Fantasmas. Aliás, uma pena que a Sony tenha escolhido manter o nome em inglês dos heróis para este filme, quando a tradução nacional dava conta do recado muito bem.

GHOSTBUSTERS: MAIS ALÉM
(Ghostbusters: Afterlife)
EUA – 124 min – Aventura, Comédia
Dir.: Jason Reitman
Rot.: Jason Reitman, Gil Kenan
Com Mckenna Grace, Finn Wolfhard, Carrie Coon, Paul Rudd, Logan Kim, Celeste O’Connor, Bill Murray, Dan Aykroyd, Ernie Hudson, Annie Potts, Sigourney Weaver, Oliver Cooper, Bokeem Woodbine, Marlon Kazadi, Sydney Mae Diaz, Tracy Letts, Josh Gad
Cotação: 8